Nota do Fotógrafo

Todas, todes e todos sabemos que os corpos homoafetivos e transafetivos existem desde que o mundo é mundo e desde os primórdios esses mesmos corpos são estigmatizados e mortos por sua respectiva sociedade enraizada em preconceitos e valores cristãos, tudo em nome de Deus. 

A História do nosso Brasil é atravessada por diversas atrocidades resultantes da colonização, onde posso citar como uma delas a inquisição e suas “denunciações”. Somitigos, tibiras e jimbandas eram como chamavam os LGBTQIA+ no período colonial de acordo com sua etnia: brancos, índios e negros, respectivamente. A inquisição aconteceu lá nos mil e quinhentos, mas atualmente, segundo os dados do GGB (Grupo Gay da Bahia), morre um LGBT a cada 19 horas vítima de lgbtfobia; a fogueira santa foi substituída por armas. 

A “terra dos papagaios” e suas penas coloridas também é terra de chacina dos corpos coloridos. O projeto intitulado acima tem por finalidade dar visibilidade e exaltar os fenótipos, diferenças e belezas dos LGBT como forma de resistência por meio de retratos fotógraficos, LGBT estes moradores da antiga Freguesia de Santo Antônio das Lagoinhas, atual cidade de Alagoinhas; repleta de lagoas, córregos e rios que nos ensinaram uma coisa: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. 

Somitigos, Tibiras e Jimbandas é um convite para que as pessoas se debrucem sobre nossos rostos carregados de historicidade, marcas e desejos. É mais uma ordem de: parem de nos matar! Além desse contexto histórico que utilizei para criação e produção do conceito das fotos utilizei bastante da religiosidade criando retratos com referências do sincretismo e da matriz-africana, afinal, nossa cultura resulta desse espasmo. 

Não se trata de uma representação de santos, orixás, nem seres cristãos, mas sim, de uma releitura e recolocação do sincretismo. A ideia é dar “a elza” no sistema com o próprio sistema, de fora pra dentro e de dentro pra fora. Outra referência para construção desse processo fotográfico é o estilo barroco, estilo esse que admiro por conta da dramaticidade que ele exerce. 

O projeto se trata de ir e vir no tempo pra mostrar que entre o anacronismo e a atualidade o preconceito se faz atemporal.

LIPE COSTA
Fotógrafo

APOIO FINACEIRO:

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